sábado, 2 de janeiro de 2016

Alfabetização, Representação e Diferença

SÍNTESE DAS IDEIAS CONSIDERADAS MAIS RELEVANTES DOS TEXTOS
As produções gráficas das crianças encantam pela sua beleza, pela síntese do humano que encerram e pela poesia.

As crianças têm necessidade de desenhar e, desde o final do século XIX, muitos teóricos têm se dedicado a entender essas marcas fascinantes e os motivos que as levam a mudar seus rabiscos.

As teorias sobre a alfabetização vêm sendo elaboradas a partir de um pressuposto: a concepção de que a escrita teria um estatuto de representação.

De acordo com a teoria piagetiana, a criança reconstrói criativamente o objeto do conhecimento ao tentar compreendê-lo. Inicialmente se faz através da ação da criança sobre os objetos de seu meio e depois se estende para o plano da representação, onde age em pensamento.

Nos trabalhos de Piaget, a noção de representação é objeto de muitas referências. Em cada estágio do desenvolvimento intelectual, segundo afirma, esse processo ganha em complexidade e abstração, sendo que a base para sua construção está nos esquemas de ação.

As relações entre os processos de desenho e escrita são abordadas com base nos estudos de Luquet, sobre o desenho infantil, e de Emilia Ferreiro, sobre a escrita. Ambos os autores enfocam a criança, seu modo de interagir e de reconstruir essas linguagens, suas intenções e interpretações, bem como as especificidades de cada momento.

As crianças consideram que se aprende a desenhar desenhando, compreendendo as estratégias utilizadas por elas ou por outras pessoas para desenhar e pela observação dos objetos.

Nos vários momentos de reconstrução do desenho, surgiram problemáticas relativas ao erro, à natureza a à função do desenho, às mudanças feitas nas produções, às correspondências e às transformações entre o objeto e sua imagem gráfica, às ideias da criança sobre como se aprende a desenhar.

Nesses diálogos com seus desenhos e com as produções de outras crianças, constatamos que as concepções a respeito do processo de desenho se alteram à medida que ela se apropria dessa linguagem, e que o desenho é considerado um objeto de conhecimento, em que ação, pensamento e emoção se entrelaçam.

Ferreiro dedica especial cuidado à explicitação das bases teóricas de seu pensamento. A filiação à teoria psicogenética é reafirmada em diferentes pontos de seu trabalho. Ela trouxe para o campo da alfabetização a questão de que modo a criança, chega a dominar na consciência as técnicas, raciocínios e procedimentos que utiliza para pensar e agir sobre os objetos. Ferreiro deixa claro que criança deve reconstruir, para se alfabetizar, uma relação entre linguagem oral e escrita. De modo que à pesquisa sobre alfabetização cabe descrever “como se vai construindo progressivamente a correspondência silábica, até que esta chegue a ser uma correspondência estrita termo a termo”.

Ao pesquisar como a criança reconstrói o sistema de escrita, ao se apropriar dessa linguagem, Emilia Ferreiro observou quatro níveis: pré-silábico, silábico, silábico alfabético e alfabético.

Após diferenciar as marcas gráficas relativas ao desenho das relativas à escrita, a criança começa a construir ambos os sistemas.

Ao desenhar e escrever a criança busca conhecer essas linguagens. As interações entre tais linguagens gráficas ocorrem, principalmente, no processo de apropriação desses sistemas. O desenho começa como uma escrita, e a escrita como um desenho, depois a criança cria formas de diferenciação e de coordenação entre elas e entre os elementos de cada sistema.

Com essa pesquisa, o que se confirmou foi não só que a arte é uma forma de construir conhecimento, que é uma atividade que envolve inteligência e sensibilidade, também influi na construção de conhecimentos, em especial em relação à construção da escrita. Assim, possibilitar às crianças que desenhem, ao contrário de ser uma perda de tempo, é propiciar-lhes representar graficamente suas experiências.

Nesse sentido, escrever para a criança é essencialmente uma atividade de imitação das representações do que é possível na escrita. Por isso não há ruptura entre seus atos de escrever e desenhar.

Enfim, é importante os professores compreender os sistemas de desenho e de escrita em seus níveis de construção, a apropriação desses objetos de conhecimento pela criança e algumas interações entre desenho e escrita.                                                                             
 
ASPECTOS DE APROXIMAÇÃO DO CONTEÚDO DOS TEXTOS

As teorias sobre a alfabetização, a linguagem oral e a linguagem escrita.

Tematização do desenho e a escrita na infância, discutindo os entrelaçamentos entre esses dois sistemas de linguagem, em que sensibilidade, cognição e contexto sociocultural direcionam e determinam modos de ver criar e compreender.

Enfoque de algumas relações entre os processos de desenho e de escrita com base nas estratégias de representação construídas pelas crianças ao se apropriarem desses sistemas. Entrelaçamento entre esses dois sistemas de imagem.

Investigação óptica da criança sobre o processo do desenho, tendo por base os pressupostos da epistemologia genética e os estudos construtivistas sobre o desenho infantil. Interesse de como a criança constrói sobre a sua produção gráfica, e que sentidos atribui as suas criações.


RELATOS DE SITUAÇÕES QUE ILUSTRAM OS TEXTOS

Sou professora de Educação Infantil, tenho uma turma de maternal 2 em turno integral, são 15 crianças, que tem entre 3 e 4 anos.

Devido ao nosso projeto Fazendo Arte...diariamente estamos em contato com diversos materiais.

Por considerar muito importante a questão do desenho, sempre coloco á disposição alguns materiais para que as crianças possam explorar livremente, (giz de cera e de quadro, folhas, lápis de cor, revistas, canetas permanentes, pedras, jornais e também livros). Percebo que quando damos importância para o desenho, oferecendo os devidos materiais, as crianças evoluem mais, tanto na questão do desenho como também da escrita.

A maioria das crianças da turma, desenha a figura humana em todas as suas produções. Outras além de fazer o mesmo, já registram sua letra inicial e reproduzem diversas coisas relacionados com nossas vivências em sala. A cada dia, tento oferecer tipos diferentes de suportes. Inclusive na semana passada ofereci a parede para desenharem, com a combinação de usarem somente a parte revestida de azulejos. A experiência foi rica, as crianças adoraram, ficaram horas reproduzindo, trocando as cores, falando o que estavam desenhando e o que faltava desenhar.   



 REFERÊNCIAS:

PILLAR, Analice Dutra. Ver, Criar, Compeender. IN: Viver Mente & Cérebro. p.32-41.

BORGES, Sonia. Alfabetização, representação e diferença. IN: Viver Mente & Cérebro. p.42-51.

A Revolução de Emília Ferreiro


 
                 SÍNTESE DOS TEXTOS E VÍDEOS SOBRE EMÍLIA FERREIRO
A psicogênese da língua escrita, uma descrição do processo através do qual a escrita se constitui em objeto de conhecimento da criança.
Emília Ferreiro mudou radicalmente as perguntas sobre a aquisição da leitura e da escrita. As tradicionalmente costumavam girar em torno de uma pergunta “como se deve ensinar a ler e escrever?”
A crença era a de que o processo de alfabetização começava e acabava entre as quatro paredes da sala de aula e garantia ao professor o controle do processo de alfabetização.
Emília deslocou o foco de investigação do “como se ensina” para o “como se aprende”. Tirou da escola, o monopólio da alfabetização e colocou no centro da aprendizagem o sujeito ativo e inteligente que Piaget descreveu. Que pensa, que elabora hipóteses sobre o funcionamento da escrita, que se esforça por compreender para que serve e como se constitui esse objeto.
É uma ideia revolucionária, o aprendiz precisa pensar sobre a escrita para se alfabetizar.
A escola aplicava avaliações e decidia se o aluno frequentaria classe regular ou especial. Isso significava negar acesso a escrita e leitura.
A alfabetização inicial é de natureza conceitual, a mão que escreve e o olho que lê estão sobre um cérebro que pensa sobre a escrita, que existe em seu meio social.
A mudança no foco das pesquisas mostrou que as crianças tinham ideias sobre a escrita muito antes de serem autorizadas pela escola a aprender. Em vez de acumularem informações oferecidas pela escola, elas pareciam “inventar” formas surpreendentes de escrever. Nenhuma criança entra na escola regular sem saber nada sobre a escrita, e o processo de alfabetização é longo e trabalhoso para todas, não importa a classe social.
Do ponto de vista político, a maior contribuição da dra. Ferreiro foi explicar o papel da rede de atos de leitura e escrita que hoje chamamos ambiente alfabetizador. É importante frisar que não é o ambiente que alfabetiza, e sim o que propicia inúmeras interações com língua escrita, interações mediadas por pessoas capazes de ler e escrever. É fundamental para as crianças ouvir histórias lidas, e escrever suas ideias sobre as características e o modo de funcionamento do sistema de escrita tendo como interlocutor um adulto leitor, que é capaz de dialogar com o aprendiz, sempre respeitando o que ele pensa e ao mesmo tempo que lhe coloca questões que podem ajuda-lo a avançar.
Pode-se ensinar muita coisa ou negar as crianças o direito de aprender. Para ensinar muito bem é preciso acreditar verdadeiramente que o aluno é capaz.

REFERÊNCIAS:
VAZ, Débora & SOLIGO, Rosaura. O desafio da prática pedagógica. IN: Viver Mente e Cérebro. p.77-84.
WEISZ, Telma. A Revolução de Emília Ferreiro. IN: Viver Mente & Cérebro. p. 07-13.
Entrevista de Emília Ferreiro por Telma Weisz: leitura e escrita na Educação Infantil. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0YY7D5p97w4, visitado em 06 de outubro de 2015.
Entrevista de Emília Ferreiro por Telma Weisz: a idade certa para alfabetizar. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=c_1oNNoXIMk, visitado em 06 de outubro de 2015.

Alfabetização - Relatos...



 No primeiro dia na Interdisciplina de Alfabetização, eu estava nervosa, mas ao mesmo tempo ansiosa. Quando a professora foi apresentada para turma, olhei e pensei, hoje será uma nova etapa na minha vida em relação a alfabetização.           
 

Minhas lembranças de alfabetização

Tenho boas lembranças do meu tempo de alfabetização. Quando iniciei na escola no primeiro ano, aos meus seis anos. Lembro claramente, que quando entrava na sala, imediatamente começava a chorar, a professora era muito atenciosa, me colocava no colo e tentava de várias maneiras me cativar.    
No início lembro que a professora me perguntava se queria ir na sala em que minha irmã estudava, e eu dizia sim.  Ao chegar, pedia para ficar um pouco com ela, e lá ficava atenta ao que a professora do segundo ano explicava.
Adorava ver tudo que estava exposto nas paredes. E com o tempo, fui ficando em minha sala, e aprendendo as vogais, adorava, imitava e registrava tudo, aquelas letras que se transformavam em desenhos.
           
Meu lugar alfabetizador

            Este ano, trabalho com uma turma de três anos em turno integral.
 Acredito que meu papel de alfabetizador seja oferecer um ambiente letrado, com diferentes formas de escrita, através de diversos materiais impressos, de jogos, vivências em que as crianças atuem ativamente, como nas rodas, nossos cartazes, a chamada, onde colocamos um elemento mediador para identificação do nome, o calendário, a agenda, e até mesmo os bilhetes que enviamos aos responsáveis.

 Minhas inquietações

Minhas inquietações são muitas. Penso as vezes não estar preparada, digo qualificada o bastante para poder oferecer as aprendizagens corretamente.
Muitas vezes tenho dúvidas, e tento me auto avaliar. Visito a sala de outras turmas, faço perguntas e peço opiniões para as colegas. Também fico preocupada com as crianças especiais. Me questiono, será que estou fazendo de maneira correta, respeitando o tempo delas.
Teve também um caso que ocorreu na escola, em que me referi a minha sala como um ambiente alfabetizador, e uma colega disse, "Não se fala alfabetizador, e sim letrado". E agora, mais uma dúvida!


Pedagogias da Mídia Erotização Infantil

http://milc.net.br/wp-content/uploads/lilica-ripilica-outdoor.jpg 

"O que estamos fazendo com nossas meninas?"

A imagem é referente a campanha publicitária da grife Lilica Ripilica, que foi veiculada em suportes como revistas, jornais, outdoors e na internet. Mostra a foto de uma menina com cerca de cinco anos sentada em uma espécie de divã. A mesma está com a boca lambuzada de algum doce. Ao seu lado a escrita “Use e se Lambuze”.
Na imagem se vê, exatamente o que se refere o texto, de Felipe e Guizzo. A estimulação precoce de crianças em relação ao consumismo, suas atitudes perante ao ato de se portar, de se vestir, suas preocupações com a aparência. E também da vulnerabilidade das crianças que atuam nas campanhas publicitárias.
 Nessa propaganda, usaram uma menina bonita, de cor branca. E conforme a moda atual, em que as crianças estão aderindo a criação do comportamento em que se vestem como adultos. A mesma está usando roupas com cores suaves, incluindo o rosa, para assim, seduzir o público infantil. Mais direcionado a parte feminina, que aprecia muito esses modelos de roupas, que são usados por mulheres de mais idade.  
A menina mostra uma expressão angelical, com o rosto lambuzado e os dizeres ao lado, mostra assim, que a propaganda abusa no uso de sua sensualidade, expondo assim a criança, e a deixando vulnerável a sociedade, principalmente as do gênero masculino adulto.

REFERÊNCIAS:
FELIPE, Jane; GUIZZO, Bianca Erotização dos corpos infantis na sociedade do consumo. Pro-posições, vol. 14, n. 13. (42), set.dez., 2003. Disponível em: https://www.proposições.fe.unicaamp.br/proposicoes/textos/42-dossie-felipej_etal.pdf
FLORES, Alice Lacerda Pio; OLIVEIRA, José Nunes JR, SANTOS, Maria Eduarda Viana, TEIXEIRA, Suellen Souza. Erotização e Infância: as duas faces da publicidade. Revista Anagrama: Revista Científica Interdisciplinar da Graduação. Ano 4 - Edição 3 de março/maio 2011.

 Produção da Infância Soft



     A partir do texto de Borges e Cunha, pode-se dizer que foi a partir do renascimento, que o sentimento de infância foi forjado. Através de imagens infantis, extremamente padronizados, com imagens que propunham a mostrar um rosto puro e angelical, na qual as crianças deveriam simbolizar os princípios católicos da época, que hoje em dia, ainda não é muito diferente.
    A mídia ainda faz esse apelo através de várias propagandas, seus modelos sempre são bebês "fofos", aspecto angelical, como antigamente, de aparência saudável. 
   Mas os responsáveis se deixam levar, pois querem sem maldade mostrar os filhos "lindos e perfeitos" para todos, como nos mostra diariamente várias redes sociais, como facebook, e a nova moda do Newborn.

REFERÊNCIAS:
BORGES, Camila Bettin; CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Retratos de uma infância contemporânea: os bebês nos artefatos visuais. Textura, v. 17, n 34, p. 99-111, maio/agosto.2015.