A partir do desafio de refletir sobre minha prática pedagógica identificando
o protagonismo de ser professor, descrevo a seguir um pouco de minha caminhada
como docente.
O que me inspirou a ser professora foi minha madrinha que também
atuava na área de Educação Infantil.
Primeiramente fiz o que estava ao meu alcance, um curso de
recreacionista que surgiu, e no momento pude pagar.
Após algum tempo, fui a uma escola para me inscrever no curso
normal, e de lá saí arrasada, tive como resposta que pela idade que tinha não
conseguiria vaga.
Logo em seguida consegui um serviço de babá, que hoje tenho
certeza, foi para compensar o sonho que pensei estar perdido.
Minha história como docente atuante começou efetivamente no ano de
2005 quando iniciei como voluntária numa creche no bairro em que morava em
Porto Alegre.
A estrutura não era adequada, a clientela atendida era de várias
idades, ficavam todas numa grande peça e não tinha pátio, mas eu me sentia
realizada.
A creche, como era chamada, era mantinha com doações e com a
contribuição dos pais, não tinha nenhuma ajuda na época, os dirigentes estavam
correndo atrás do convênio com a prefeitura, que aconteceu no mês de agosto do
mesmo ano.
A partir desse, a “creche” foi transferida para um prédio escola,
que já estava pronto e se tornou uma Escola de Educação Infantil na qual fui convidada
para trabalhar como professora titular de uma turma de maternal com 20 crianças
de idades entre 2 a 4 anos.
Após dois meses atuando em sala, fui convidada para assumir a
coordenação pedagógica, no primeiro momento preocupada, e muito nervosa respondi
sobre minha atual qualificação, e que tinha medo de não saber conduzir a escola
de acordo com o cargo que estava sendo designada.
Recebi a resposta que desde que era voluntária já fazia um bom
trabalho, e que no momento não tinham ninguém qualificado, que a única a ter um
curso era eu, e o mais importante para eles, que tinham urgência pelo fato de
precisarem de alguém para o cargo, pelo fato de ser uma das exigências conforme
o contrato assinado com a Secretária Municipal de Educação.
No mesmo mês que recebi o convite,
tivemos a presença de algumas assessoras da SMED. Durante a conversa foi falado
sobre as exigências que teriam que ser cumpridas, dentre elas que um professor
formado, podendo ser com o Curso Normal, pois não era exigida licenciatura em
pedagogia, seria responsável por assinar e responder por toda a parte
pedagógica da escola.
Então uma delas me olhou e disse, você pensa em voltar a estudar,
se qualificar? E ao ter minha resposta afirmativa e meu relato anterior em
busca de uma vaga para isso, ela me indicou uma escola e as datas para inscrições.
Me inscrevi, e com certeza fui contemplada, com a ajuda dela, que descobri
depois.
A partir dessa chance, o sonho começou realmente a virar
realidade, lembro como se fosse hoje, tive professoras incríveis, a qual devo
muito a prática que adquiri ao longo do tempo.
Após a conclusão ingressei em duas faculdades, na primeira parei
por motivo conjugal e financeiro, na segunda vez somente por motivo financeiro.
Na escola em que trabalhava confesso que não foi fácil, pois tive
que correr atrás de tudo praticamente sozinha, a direção não se envolvia com a
parte pedagógica, muitas coisas não decorria corretamente, o real apoio que
tive foi das educadoras que realmente levavam a sério a educação e que queriam
fazer o que gostavam da melhor maneira. E também das assessoras da SMED que me
tratavam com respeito e faziam eu me sentir valorizada. Sempre me acolhiam e se
ofereciam me dando suporte e fazendo o que podiam para que eu ampliasse meus
conhecimentos a fim de fazer um bom trabalho na escola, e isso me motivava cada
vez mais.
Mas, sentia que era também para meu crescimento profissional, me
convidavam para formações e cursos que não eram obrigatórios. Solicitavam a
sede da escola para realizarem algumas das formações mensais com outras
escolas. Disponibilizavam-me diversos materiais, me incentivavam, me escutavam
e me elogiavam. Penso que tudo isso por perceberem meu interesse, minha vontade
de crescer, de saber mais, de ser uma boa profissional.
Também foi nesse tempo que tive que construir o Projeto Politico
Pedagógico da Escola, o Regimento Escolar e o Plano de Formação Continuada, na
qual eu, as educadoras, os pais, e minha assessora de região demoramos um ano
para concluir os documentos que também eram exigidos, e que percebi com o tempo
serem necessários.
No decorrer dessa longa caminhada, nós integrantes da equipe
escolar tivemos muitas reuniões pedagógicas, sendo algumas sozinhas, e outras
com os pais.
Estudamos, pesquisamos, elaboramos questionários e formações
específicas para ampliar nossos conhecimentos em relação à construção da documentação,
enfim, trocamos muitas ideias.
E assim os dias foram passando e eu fui ganhando experiência, que somando
foram quase 8 anos, o que me deixou cada vez mais apaixonada pela profissão. Construí
muitas amizades, laços afetivos que ainda são preservados, ampliei meus
conhecimentos, participei de oficinas, palestras, cursos e muitas formações continuada,
que me proporcionaram um grande aperfeiçoamento, que não foi o suficiente para
me deixar segura no momento em que assumi minha primeira turma de Educação
Infantil no Município de Novo Hamburgo em que trabalho atualmente. Nem nos
momentos em que participo de formações na escola ou em outros lugares como na
Secretária de Educação.
Penso, mesmo estando constantemente me qualificando, sempre
sentirei esse “frio na barriga”, pois apesar de saber que sou capaz de fazer o
melhor em sala, cada momento é diferente do outro, são muitas as manifestações
na qual também contribuo com meus conhecimentos. Mas percebo que sempre surge
algo diferente, que nos proporciona ampliar as aprendizagens.
Gosto e acho muito importante esses momentos coletivos em que as trocas
acontecem.
Na escola atual, sempre participamos da construção e elaboração
dos documentos que são solicitados pela SMED. A direção e coordenação organizam
da melhor maneira para que tudo transcorra adequadamente, e para que todos que compõem
a equipe escolar também participem.
As aprendizagens se constroem diariamente através das trocas
entre, criança/criança, criança/adulto, adulto/adulto e o meio (os ambientes
que utilizamos).
Também elaboro um projeto de acordo com algumas pistas que as crianças
me dão em nossos diversos momentos da rotina. E a partir do mesmo e de suas
falas, organizo os objetivos específicos para assim proporcionar atividades que
lhes sejam prazerosas e significativas. Tento conduzir as crianças da melhor
maneira, conforme seu ritmo, para que as mesmas desenvolvam e construam saudavelmente
suas capacidades e habilidades.
As avaliações são feitas a partir de relatórios, que faço com a
ajuda de alguns roteiros de observação que elaboro e organizo conforme a faixa
etária que estou atuando. Faço algumas anotações diariamente, filmo e/ou fotografo.
Para que isso aconteça de maneira mais eficiente, atuo ativamente e/ou observo
as crianças em seus diversos momentos. E assim conseguir fazer uma avaliação em
que eu possa descrever suas vivências significativas na escola, não deixando de
escrever também alguns tópicos que são solicitados pela coordenação.
Referência:
BETTI, Irene C. Rangel; MIZUKAMI,
Maria da Graça Nicoletti. História de vida: Trajetória de uma
professora de Educação física. MOTRIZ - Volume 3, Número 2, dezembro/1997.