Na escola em que trabalho
que é uma EMEI em Novo Hamburgo, o censo escolar é realizado pela secretária,
mas se a mesma não der conta a diretora que assume a responsabilidade, inclusive
leva o material para casa afim de cumprir os prazos.
Mas quando eu trabalhava em
Porto Alegre numa escola conveniada com a prefeitura, eram as coordenadoras que
realizavam e eram totalmente responsáveis por toda documentação.
Percebo que era bem diferente
da realidade que vivencio hoje. Na escola conveniada era preciso ir até a Secretaria
de Educação para realizar esse trabalho, pois não tinham internet, alegavam que
não tinham dinheiro para ter esse “Luxo”.
Mas, com o tempo ficou claro
que não davam a total importância para a realização do censo, que requer tempo
para ser realizado.
Lembro que na época a
responsável dizia, coloca qualquer coisa, é bem rápido, eu já fiz isso.
Na escola em que atuo, as
professoras tem em sala a ficha de entrevista de cada criança, mas a mesma não
contém os dados que é preciso para realizar o censo. Então foi necessário falar
com a diretora para poder fazer a pesquisa. Solicitar para usar as fichas de
inscrições e matrícula das crianças.
Durante o processo percebi
que o que já sabia mais uma vez se afirmou. Que a maioria das crianças são
declaradas de cor branca, apenas duas estava marcado as opções de cor ou raça
não declarada, e nenhuma declarada preta ou parda. O que me deixou “chocada”,
usei essa palavra naquele momento quando fui falar com a diretora sobre como se
dá o preenchimento desse item.
De acordo com dados do Unicef, a média nacional de 38,6%
fora da escola esconde iniquidades: entre as crianças brancas, o dado é mais
favorável (36,1%); entre as crianças negras, porém, 41% não frequentam a
pré-escola. Essa disparidade demonstra a desigualdade entre brancos e negros
desde o início da escolaridade.
A diretora me respondeu que
sempre perguntam as famílias. Algumas respondem de pronto, outras permanecem um
momento calada, pensando, ou pedem ajuda na resposta. E também que nas
certidões de nascimentos não constam mais a cor das pessoas como eram as de
antigamente. Então, fica registrado na maioria a opção que as famílias falam.
Nesse momento concordei com
ela, pois lembrava que nas certidões de antigamente já era escrito à nossa cor,
pois a minha era assim.
Também falei que até achava
melhor no ter mais por escrito esse item, pois na minha certidão estava que sou
de cor branca, e na verdade sou preta. Minha mãe disse que foi feita logo após
meu nascimento, então a pessoa do cartório ao me ver não aceitou colocar de cor
preta.
E isso aconteceu comigo e com muitas outras
pessoas, incluindo alguns de meus irmãos pelo fato de nascermos mesmo de cor
branca, o que acontece com a maioria dos bebês que tem a mistura preta e branca
na família. Mas após alguns meses, cada um vai adquirindo sua cor. É claro que
sabemos que algumas crianças permanecem com a cor branca também. Por esse
motivo, acho melhor não constar nas certidões a cor ou raça.
Em relação ao que citei sobre as pessoas que fazem essa
parte nos cartórios, escolas ou outros lugares, conforme o texto, A cor
ou raça nas estatísticas educacionais: uma análise dos instrumentos de pesquisa
do Inep concordo que este é um campo que ainda requer aprimoramento em
seus procedimentos de coleta. E que também é importante padronizar a redação da
pergunta sobre o pertencimento racial do respondente.
Ao contrário do que li no texto citado a cima, na escola,
mais precisamente em minhas turmas, ainda permanece a maioria das crianças
sendo marcada a opção de cor branca. Mesmo que se fizesse uma nova pesquisa,
ficaria assim, a porcentagem maior seriam os que se declaram brancos.
Afirmo isso devido
ao fato de um dia levar uma boneca preta para compor os brinquedos da sala, e
de apresentar para as crianças uma artista preta (cantora).
Em nossas conversas a partir de uma frase da música,
“Menina pretinha, você não é bonitinha você é uma rainha”, surgiu uma
“descoberta”. “Eu sou igual a MC Soffia!” disse uma menina. A partir desta
algumas crianças começam a se descobrir em relação à cor. Então percebemos que
naquele ano, em nossa turma só tinha duas meninas negras e nenhum menino.
Eu fui mais além, e fiz uma pesquisa nas outras turmas da
escola, e ficou claro que realmente tinha um número bem menor de crianças de
cor negra, que também se repetiu no ano de 2017, por isso afirmei sobre a cor
branca ter um maior percentual.
“Longe
estamos de garantir cobertura de atendimento em Educação Infantil para a grande
maioria da população brasileira. De acordo com dados do Unicef, a população
indígena e negra são os segmentos mais excluídos do acesso à educação na faixa
etária dos zero aos seis anos”.
Referência:
SENKEVICS, Adriano Souza; MACHADO, Taís de
Sant’Anna ; OLIVEIRA, Adolfo Samuel de. A
cor ou raça nas estatísticas educacionais: uma análise dos instrumentos de
pesquisa do Inep. – Brasília : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2016. 48 p.: il. – (Série Documental. Textos para
Discussão, ISSN 1414-0640; 41). Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2207318/mod_resource/content/1/A%20Cor%20ou%20Ra%C3%A7a%20nas%20Estat%C3%ADsticas%20Educacionais%20-%20uma%20an%C3%A1lise%20dos%20instrumentos%20de%20pesquisa%20do%20Inep.pdf>
acesso em: 15 de novembro 2017.
Orientações e Ações para Educação das
Relações Étnico-Raciais Brasília: SECAD, 2006. Disponível em: <https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2110273/mod_resource/content/2/Orienta%C3%A7%C3%B5es%20e%20A%C3%A7%C3%B5es%20para%20a%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20das%20Rela%C3%A7%C3%B5es%20%C3%89tnico-Raciais.pdf> acesso em: 12 de janeiro 2018.
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